sexta-feira, 30 de julho de 2010

O pintor


- Quer um copo d´água, senhor? Tá muito quente hoje.
- Aceito sim, obrigado.
Ele não olhava nos olhos, ficou cego do mundo, dizia.
(...)
- Também não gosto de falar com quem conheço, moça... a vida até parece que empurra as verdades contra a gente. Só tive vida enquanto ele era vivo, moça. Meu filho, tão pequeno ser levado assim... A gente prefere ir junto...
Os moradores ficam pedindo pra eu não cair daqui, pra não assustar o prédio... Imagina... eu estou no décimo andar, quase que pertinho de Deus... pinto a fachada do prédio e cada pincelada é um esquecimento do hoje. O medo quem faz é a gente... Era isso que eu queria, não ter mais medo, moça... Vivo pra dizer que eu tô bem.

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Fui ao banheiro lavar meu rosto. Peguei a toalhinha pra enxugar... Do lado dela apareceu uma formiguinha... Só. Os azulejos do meu banheiro, eles são meio manchados. Eu mesma nunca reparei. Pois que aquela formiguinha estava andando em círculos (se não me falha a memória, as formigas andam juntas, pelo rastro não se perdem e, por isso, seguem umas as outras até chegar ao destino). Não sei por que, mas parei algum tempo ali em frente e imaginei uma vida inteira... Ela andava sobre as manchas, às vezes reto, às vezes pra trás, às vezes parava... E, às vezes, parecia que ela seguia o contorno das manchas do azulejo só porque não sabia mais tentar. Ela não sabia voltar. Eu não sabia para onde. 

4 comentários:

Anônimo disse...

Que bonito! Caí aqui de bobeira e gostei. Parece que o blog é novo! Escreva mais! Ficarei acompanhando!

Anônimo disse...

Caí aqui e não foi de bobeira!
Sei exatamente o que você é, finjo saber mais e não me preocupo, só quando não dá mais é que mostro!
Eu conheci uma formiguinha, uma certa vez, que andava nos azulejos, ela não me deu muita atenção, mas eu fiquei conhecendo ela... Eu me achei raro, um homem que é amigo de uma formiga, ninguém consegue isso, eu também não tinha conseguido, mas falava que sim, então ninguém havia conseguido falar com uma formiga, aquele ser tão raro, nunca tinha visto, ainda assim, no azulejo, nunca tinha visto nem ouvido, alguém já viu uma? Duvido, é bichinho difícil de enxergar, pequeno de tudo...
Sentei outro dia na mesma cadeira de louça de outro lugar, lá estavam elas, todas a rechear a tal parede... Formigas não são raras, eu era um belo trouxa, elas todas malandrinhas entupindo o azulejo... Rindo de me enganar. Aqueles sorrisinhos. Tomara que muitos homens sejam amigos delas.
Furmiga. Nunca conheci nenhuma! Só vi de longe.

Anônimo disse...

Não vai mais publicar?
Fica quetim ai no cantim não!!!

Alex

Alex Wildner disse...

Cade tu?